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“Noutra dimensão, meu amado Ulisses. Tenho certeza.”








Eu devia ter me mantido afastado - sim, fora escolha dele iludir o menino com um falso senso de proteção. Mas havia tal promessa, irrevogável,  impedindo-me de seguir minha vida.

Levo-te então para ver o mar, Ulisses. E, depois de dar o fim prometido à nossa história, deixo que tudo vire apenas uma doce memória.

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Perdido neste oceano de concreto, tenho saudade de casa, como Odisseu tinha saudade de Ítaca. Não posso voltar, entretanto, embora tenha prometido a Davi que meu regresso não demoraria - doce Davi, que me aguarda, feito Penélope, descosendo a mortalha todas as noites.

É quando, como o canto das sereias seduz Odisseu, os tenros olhos azuis de Otelo desvirtuam-me de meu caminho e me fazem duvidar de minha promessa.

Não almejo mais o regresso a Ítaca; os olhos de Otelo  amansaram o revolto oceano.

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E diante das luzes da Cidade, vejo seu rosto iluminado e irresoluto. Tudo parece certo, no lugar em que sempre deve estar. Somos como casas geminadas, dividindo o mesmo alicerce. Mesmo que este alicerce seja a solidão e o silêncio.







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