Recolho-me aos
sonhos... Vejo o que os olhos não alcançam... Sinto o que a pele não percebe...
Fico feliz e em paz.
Sonhos são
preciosidades: Não pertencem a ninguém além de nós mesmos.
Encontro-me em fase de realizações. Chega de
passado! Transformá-lo em presente é o foco. Paolo está bem. Retomei a vida em
meu ninho cinza e prossigo...
Recebi um e-mail resposta de uma empresa de
Marketing e Comunicação:
“Íris Sinah, fiquei surpreso com seu
contato através da empresa onde trabalho. Soube que viu publicada uma
reportagem minha sobre a mobilização dos professores em uma revista para a qual
trabalho faz anos.
Antes de qualquer aproximação
virtual, preciso saber se é você a Íris que tanto preciso reencontrar. Que tal
um encontro?
Aguardo, ansioso.
Daniel”
Marcado o encontro! Ansiosa, diante do espelho, vaidosa.
Trocadas várias mudas de roupas, foi o vestido vermelho o escolhido. Insegurança
normal para quem há mais de vinte anos não vê aquele que um dia foi o homem de
sua vida.
Trancadas as janelas e portas, lá fui eu!
Uma cafeteria, 17 horas, dia quente, coração
ardendo, mãos trêmulas, boca seca, olhos atentos. Diante de uma xícara de café,
aguardava. Como seria? O que eu deveria fazer? Beijá-lo, abraçá-lo? Não sentiria vontade... a princípio, seria forçado.
Uma voz: “Íris Sinah?”. Virei-me e o vi ali, em
pé, olhando-me como quem quer descobrir o passado, tirar-lhe o véu,
escancará-lo.
- Olá. Sim, sou Íris. Íris Sinah. – Ofereceu-me
sua mão e, automaticamente, segurei-a e me levantei.
- Esperou muito tempo? Sabe, né? Às vezes
acontecem situações inesperadas bem na hora de sair, vida de jornalista é cheia
de surpresas.
Sentamo-nos.
- Imagino.
- Mas surpresa maior do que revê-la não é como
nenhuma outra. Você não imagina a emoção que sinto agora. Queria que você
soubesse... – interrompi, não o deixei completar a frase.
- Não há do que se desculpar, não há do que se
arrepender. Eu não me preocupo com o que foi. Sou o agora. E minha família sempre
me falou a verdade e me ensinou a viver pela verdade.
- Minha filha. Posso chamá-la de minha filha? Afinal...
– novamente não permiti que concluísse sua ideia.
- Sempre. Apesar de tê-lo visto apenas quando
criança, o tempo que vivemos foi intenso e feliz. A separação foi inevitável.
Acontece. - Sorri. – Na verdade é o que mais acontece. Quando a gente está muito
feliz, uma reviravolta traz um pouquinho de tristeza... Mas tudo passa, o tempo
ajuda.
- Vô Samuel, né? Ele dizia isso e você aprendeu
direitinho.
- Minha família era preciosa. Hoje sinto-me órfã
do brilho e do valor, das joias raras que perdi em vida, mas é preciso
continuar...
- Que bom que me procurou. Logo que sua mãe foi
embora e se casou...
- Não se justifique. Estou aqui e agora.
Fale-me um pouco de você.
[...]
Daniel Posteur, jornalista de uma empresa de
comunicação, famoso, casado, pai de dois filhos adolescentes. Eu, filha
encantada com suas histórias, sem traumas e neuroses.
Feliz por encontrá-lo!
Levou-me até em casa. Não subiu. Também não o
convidei. Já sabia onde e como me encontrar.
Claro que nos veríamos outras
muitas vezes. Ao me despedir senti vontade de abraçá-lo. Mas nem precisei tomar
a iniciativa. Assim que o carro parou diante do prédio, ele me puxou e me deu o
abraço mais forte e verdadeiro que há tempos não recebia. Beijou-me a testa e
disse que me ligaria.
Voltei à menina que um dia fui. Despojei-me da carcaça
criada pelos últimos anos, desprotegi-me, entreguei-me ao acalanto e me permiti
ser feliz.
Não, não era um sonho! Era um reencontro
fantástico!
Entrei no edifício, no meu
recanto, embriagada de tanta alegria. O corredor parecia comprido, bem mais do
que realmente é. E eu, caminhando levemente pelo piso frio, na passarela, em
curso direcionado para o sucesso.
Ouvi uma música vinda de um dos apartamentos.
Parei e fiquei ali por um tempo degustando as palavras melodiosamente cantadas
pela Simone:
“Então
é Natal, e o que você fez? O ano termina, e nasce outra vez. Então
é Natal... Do velho e do novo, do amor como um todo. Então bom Natal, e
um ano novo também. Que seja feliz quem souber o que é o bem...”.
Sim,
pensei. É Natal. E quem disse que a mágica dos sinos de Belém não existe?
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