11 de dezembro de 2013

[502] Reencontro

Recolho-me aos sonhos... Vejo o que os olhos não alcançam... Sinto o que a pele não percebe...

Fico feliz e em paz.


Sonhos são preciosidades: Não pertencem a ninguém além de nós mesmos.



Encontro-me em fase de realizações. Chega de passado! Transformá-lo em presente é o foco. Paolo está bem. Retomei a vida em meu ninho cinza e prossigo...

Recebi um e-mail resposta de uma empresa de Marketing e Comunicação:

“Íris Sinah, fiquei surpreso com seu contato através da empresa onde trabalho. Soube que viu publicada uma reportagem minha sobre a mobilização dos professores em uma revista para a qual trabalho faz anos.
Antes de qualquer aproximação virtual, preciso saber se é você a Íris que tanto preciso reencontrar. Que tal um encontro?
Aguardo, ansioso.
Daniel”

Marcado o encontro! Ansiosa, diante do espelho, vaidosa. Trocadas várias mudas de roupas, foi o vestido vermelho o escolhido. Insegurança normal para quem há mais de vinte anos não vê aquele que um dia foi o homem de sua vida.

Trancadas as janelas e portas, lá fui eu!


Uma cafeteria, 17 horas, dia quente, coração ardendo, mãos trêmulas, boca seca, olhos atentos. Diante de uma xícara de café, aguardava. Como seria? O que eu deveria fazer? Beijá-lo, abraçá-lo? Não sentiria vontade... a princípio, seria forçado.


Uma voz: “Íris Sinah?”. Virei-me e o vi ali, em pé, olhando-me como quem quer descobrir o passado, tirar-lhe o véu, escancará-lo.

- Olá. Sim, sou Íris. Íris Sinah. – Ofereceu-me sua mão e, automaticamente, segurei-a e me levantei.

- Esperou muito tempo? Sabe, né? Às vezes acontecem situações inesperadas bem na hora de sair, vida de jornalista é cheia de surpresas.

Sentamo-nos.

- Imagino.

- Mas surpresa maior do que revê-la não é como nenhuma outra. Você não imagina a emoção que sinto agora. Queria que você soubesse... – interrompi, não o deixei completar a frase.

- Não há do que se desculpar, não há do que se arrepender. Eu não me preocupo com o que foi. Sou o agora. E minha família sempre me falou a verdade e me ensinou a viver pela verdade.

- Minha filha. Posso chamá-la de minha filha? Afinal... – novamente não permiti que concluísse sua ideia.

- Sempre. Apesar de tê-lo visto apenas quando criança, o tempo que vivemos foi intenso e feliz. A separação foi inevitável. Acontece. - Sorri. – Na verdade é o que mais acontece. Quando a gente está muito feliz, uma reviravolta traz um pouquinho de tristeza... Mas tudo passa, o tempo ajuda.

- Vô Samuel, né? Ele dizia isso e você aprendeu direitinho.

- Minha família era preciosa. Hoje sinto-me órfã do brilho e do valor, das joias raras que perdi em vida, mas é preciso continuar...

- Que bom que me procurou. Logo que sua mãe foi embora e se casou...

- Não se justifique. Estou aqui e agora. Fale-me um pouco de você.

[...]

Daniel Posteur, jornalista de uma empresa de comunicação, famoso, casado, pai de dois filhos adolescentes. Eu, filha encantada com suas histórias, sem traumas e neuroses.                                                        
                                                     Feliz por encontrá-lo!

Foram muitos cafés e horas, nem percebemos que já se passavam das dez da noite e precisávamos voltar a real.

Levou-me até em casa. Não subiu. Também não o convidei. Já sabia onde e como me encontrar. 

Claro que nos veríamos outras muitas vezes. Ao me despedir senti vontade de abraçá-lo. Mas nem precisei tomar a iniciativa. Assim que o carro parou diante do prédio, ele me puxou e me deu o abraço mais forte e verdadeiro que há tempos não recebia. Beijou-me a testa e disse que me ligaria. 

Voltei à menina que um dia fui. Despojei-me da carcaça criada pelos últimos anos, desprotegi-me, entreguei-me ao acalanto e me permiti ser feliz.

Não, não era um sonho! Era um reencontro fantástico!

Entrei no edifício, no meu recanto, embriagada de tanta alegria. O corredor parecia comprido, bem mais do que realmente é. E eu, caminhando levemente pelo piso frio, na passarela, em curso direcionado para o sucesso. 


Ouvi uma música vinda de um dos apartamentos. Parei e fiquei ali por um tempo degustando as palavras melodiosamente cantadas pela Simone: 

Então é Natal, e o que você fez? O ano termina, e nasce outra vez. Então é Natal... Do velho e do novo, do amor como um todo. Então bom Natal, e um ano novo também. Que seja feliz quem souber o que é o bem...”.

Sim, pensei. É Natal. E quem disse que a mágica dos sinos de Belém não existe?




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