Lá se foram muitos dias em que Mirella havia se
enterrado junto ao seu passado.
Seu mundinho passara a convergir para seu apartamento onde
as paredes desbotavam em cores pálidas condizentes com suas emoções. Precisava repensar aquelas paredes agora que teria mais
tempo para estar com elas, talvez seria uma boa ideia repintá-las.
Sim, tempo.
Mirella estava desempregada!
Foi um choque quando, ao voltar a trabalhar, encontrou sobre
sua mesa a carta de demissão onde pode ler friamente a notícia de que seus
trabalhos não seriam mais necessários à empresa.
Perdera o pai e o emprego em uma tacada só.
Precisaria de tempo.
Precisaria de tempo.
E agora uma nova carta: do síndico, cobrando o aluguel
atrasado.
Tantos acontecimentos em torno de seu prédio e em sua vida!
Sua vizinha, a menina meio doidinha, que sumira por um tempo
estava presa (Que delito essa pequena deveria ter cometido?) O apartamento seria ocupado por um novo morador.
A mulher que conhecera no metrô alugara um apartamento no
prédio. Menos mal, teria com quem conversar. Íris parecia ser uma pessoa bem
legal.
Soube da confusão que envolveu os meninos do terceiro andar.
Coisas de gente preconceituosa.
D. Lêda , pelo que ouviu dizer, bateu a cabeça e está
hospitalizada. E Seu Célio então, esse, acho que mumificou!
O cara esquisitão que gosta de fuxicar lixo enclausurou-se
no apartamento. Parece que anda deprimido.
Está tudo sombrio naquele aglomerado de blocos de
concreto... Mirella se
arrepiou: imaginou a cena de um cemitério com seus jazigos empilhados uns sobre
os outros.
Estremeceu o corpo e sacudiu seus pensamentos.
Que mais poderia lhe acontecer? Ah, claro: a tal carta!
Nada incomodava mais Mirella do que ser cobrada por suas
responsabilidades!
Nunca fora com a cara do síndico e agora menos ainda, pois
nem bem atrasara seu aluguel e o mesmo já a constrangera com uma cobrança no
mural do prédio. Poderia processá-lo por assédio moral mas do jeito que sua
vida andava em revés seria melhor não mexer em vespeiro.
Abriu, mais uma vez, a página dos classificados.
Seu futuro a esperava no labirinto de letras
cheias de significados que não lhe traziam nenhum significante.
De repente, nas páginas em preto e branco, um anúncio colorido de qualquer coisa chamou-lhe a atenção, não pelo produto em si mas pelo que dizia:
Foi então que Mirella sentiu uma brisa mansa dentro de seu peito, fechou os olhos com suavidade e uma lágrima lhe escapou.
Assim é a vida, pensou.
De repente, nas páginas em preto e branco, um anúncio colorido de qualquer coisa chamou-lhe a atenção, não pelo produto em si mas pelo que dizia:
Foi então que Mirella sentiu uma brisa mansa dentro de seu peito, fechou os olhos com suavidade e uma lágrima lhe escapou.
Assim é a vida, pensou.
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