8 de agosto de 2013

[502] Episódio Dois: CHEGANDO...



Quando o coração se aquieta,    
A alma tranquila se sente em paz.
Seus domínios voltam ao seu poder de ação,
Suas ações se tornam mais coerentes,
Terminam os transtornos mentais.
Inicia-se uma nova jornada.

Agora mais forte o espírito enfrenta,
O corpo aguenta,
A mente rapidamente se refaz.
E os tormentos deixam de ser dor,
Passam a novas aprendizagens
E os sonhos renascem.

Instalei-me em um albergue - triste, frio, sujo, sem identidade – logo que desembarquei aqui nessa cidade. Ali permaneci até encontrar um canto onde eu pudesse estar tranquila e sem medo...  Medo do perdido, da carência, do inesperado, do novo, do tudo.
Pássaros formam ninhos para aconchegar filhotes e protegê-los... Eu, em minha nova casa, busco uma referência física e emocional, vínculo indispensável a uma vida simples; quem sabe, entretanto, cheia de alegrias futuras. Sem traumas, sem exageros, sem lembranças nostálgicas nesse momento em que o importante é reaprender a ser.
Vida! Restaurá-la, traçar caminhos diversos, carregados de cotidiano, rotinas comuns, dessas que fazem a gente perceber que, por perto, está a felicidade, mas dela não nos damos conta por ser tão natural... Ela quando só se torna perceptível no instante vazio da perda, da ausência, da falta...
Dentre tantos desejos incrustados no coração, um particularmente arde, e com ele muito me importo: a procura de meu pai Daniel Posteur - ainda jovem jornalista, apaixonou-se por minha mãe e, por circunstâncias adversas às suas vontades se separaram.
Conheci o Edifício Cinza por intermédio de uma moradora, Mirella. Encontrei-a rapidamente em uma fila de metrô e, com esse meu jeito falante de puxar conversa, comentei sobre a minha urgência em encontrar um lugar pra morar.
Procurei o edifício, como me aconselhou a moça, mas, quando lá estive, não havia ninguém que pudesse me dar qualquer tipo de informação. Deixei um recado sob a caixa de correio. Um escrito, quase “crônico” – Crônico, genial! - Quem sabe Mirella ou outra pessoa qualquer o lesse e entrasse em contato.
Foi o que aconteceu. Recebi um e-mail: 
"Olá, Íris. Sou corretor de imóveis e encontrei seu recado à porta do Edifício Cinza. Fico feliz em lhe dizer que temos um apartamento vago no 5º andar, o 502. O espaço é pequeno, mas bem distribuído em quarto, sala, cozinha, banheiro e uma pequena área. Caso ainda tenha o interesse, envie-me uma resposta." 
Sobressaltada, tomada por uma alegria que há muito não sentia, soube de imediato: aquele seria meu canto, meu recanto recôndito, esconderijo do vento inesperado, das tempestades assombrosas e malqueridas... Meu ninho, meu aconchego cinza em paredes esburacadas, chão sofrido, mas nada que uma boa limpeza e ligeira pintura não resolvam.
E cá estou...

Agora com endereço certo posso receber cartas e amigos. Cartas sim! Amo as palavras escritas, marcadas em versos ou em prosas, mas com identidade própria, registros que serão guardados e poderão ser lidas e relidas... Papéis e palavras, grandes companheiros meus.


Sobrevivo à ideia de ter-me como companhia e a companhia dos meus sonhos - dos mais inocentes aos mais profanos. Sonhos que permeiam vidas pretéritas e as de agora. Sonhos que me embalam e me assustam. Sonhos que me impulsionam ou me deixam em apatia extrema... 
Mas sonhos, sempre sonhos!

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